No texto anterior você aprendeu que a nossa autoestima é muito mais do que as roupas que vestimos! Mas é possível que elas te ajudem a ter uma boa autoestima?
Se você ainda não leu o texto anterior, recomendo que leia antes de continuarmos. É só clicar aqui!
O desenvolvimento da psicologia cognitiva e da neurociência mostra que existe uma conexão entre a nossa mente e o nosso corpo. Assim as nossas experiências físicas se tornam parte dos nossos processos cognitivos e psicológicos.
E o vestir é o quê, se não uma experiência física? Com a qual estamos em contato quase que 100% do tempo?
Conexão mente-corpo
Em 2012 uma pesquisa científica cunhou o termo cognição indumentária que explica como ocorre essa correlação entre o que vestimos e a nossa mente.
Cognição indumentária é o conceito central dentro da psicologia moda! E funciona assim:
– as roupas que vestimos possuem significados e, por isso, elas comunicam determinadas mensagens: formal, informal, divertido, sério, alegre, criativo, dinâmico, ousado, etc…
– se acreditamos nesse significado, se ele faz sentido dentro do meu contexto de vida
– ao vestir essa roupa ocorre um processo chamado incorporação. Eu incorporo o significado dessa roupa e isso influencia nos meus processos mentais. Importante frisar que é essencial vestir. Estamos falando de uma conexão entre mente e corpo. Não entre mente e cabide!
Como eu ia dizendo, ao vestir, no corpo, o resultado é que eu passo a me sentir e a me comportar conforme o significado que essa roupa tem para mim. Isso é incorporação!
Por exemplo, se eu estou vestindo roupas relacionadas a signicados de formalidade, competência, atenção a detalhes, minúcia, excelência…é esperado que eu me sinta mais confiante, mais competente, mais formal e, consequentemente aja de maneira mais atenta, concentrada, formal e minuciosa.
Além disso, a minha postura e linguagem corporal também são afetadas. E o resultado é que as pessoas ao meu redor, ao entrarem em contato com a minha postura e com as minhas ações, tendem a me perceberem dessa maneira também.
O efeito das suas roupas em você!
Esse conceito muda o paradigma da primeira impressão ao demonstrar cientificamente que as roupas têm poder não apenas sobre a percepção das outras pessoas sobre nós, mas também sobre nós mesmos e nossos processos cognitivos e psicológicos.
E eu já não disse que autoestima é um autoconceito, uma noção interna de valor próprio?
E é assim que a nossa imagem está relacionada com nossas crenças pessoais. Por isso, se você entendeu bem o texto anterior, podemos falar que a sua autoestima é composta por crenças que você tem sobre si mesma.
Dessa maneira, a sua imagem pode ser reflexo dessas crenças, sinalizando se temos autoestima ou não. Ou ela pode ser usada, através da nossa conexão entre mente e corpo, para potencializar um processo de alimentação de novas crenças mais positivas! Reforçando, através da minha imagem, as mensagens positivas sobre nós mesmas e alimentando sentimentos internos positivos.
Sua imagem reflete sua autoestima por efeito da congruência cognitiva!
Isso acontece por conta de um outro conceito que chamamos de congruência cognitiva. Nossas escolhas tendem a refletir o que pensamos e sentimos e o nosso comportamento pode influenciar no que sentimos e pensamos!
Portanto, se você alimenta sentimentos e pensamentos negativos sobre si mesma as suas escolhas em relação ao vestir tendem a refletir isso. Por outro lado, se você está trabalhando esse senso interno de estima e valor, você pode usar a sua imagem (que é um comportamento) para reforçar esses pensamentos e sentimentos positivos.
E é por isso mesmo que apenas renovar o guarda roupa tende a não funcionar. Quando você tem sentimentos e pensamentos muito arraigados, alimentados ao longo de anos, apenas o comportamento de se vestir de maneira diferente tende a não ter força suficiente para mudar o que você pensa e sinte sobre si mesma.
Já se esses dois pontos são trabalhados em conjunto um tende a fortalecer o outro e o resultado se torna muito mais eficaz e duradouro!
O que a suas roupas significam para você?
Para finalizar, é muito importante reforçar a palavra crenças! Porque, como eu disse lá no início, para haver a incorporação, eu preciso acreditar no significado da roupa. Por isso que nem todo mundo fica confortável e se sente bem vestindo roupas formais. Porque se para mim elas significam arrogância, inescrúpulo e remetem a pessoas gananciosas e egoístas, por exemplo, serão essas mensagens que eu irei incorporar. E havemos de concordar que isso não vai fazer com que você se sinta bem ou confiante!
Por isso não adianta sair aplicando regras! Elas não são válidas para todo mundo. É preciso analisar o contexto de cada pessoa individualmente!
Viu só como a sua imagem pode ser poderosa?
Referências usadas nesse texto:
ADAM, Hajo; GALINSKY, Adam D. Enclothed Cognition (2012). Journal of Experimental Psychology, n.48, 918-925.
MAIR, Carolyn. The Psychology of Fashion. Ed. Routledge, 2018.
ROSA, Inês Valente; SCHOLTEN, Marc; CARRILHO, Joana Paixão. Festinger revisitado: sacrifício e argumentação como fontes de conflito na tomada de decisão. Revista Análise Psicológica, 2(24), p. 167-177, 2006.