ATENÇÃO! ESSE TEXTO CONTÉM SPOILERS!
Não. Você não leu errado e nem está ficando doida. É sobre Moana, sim, aquele desenho da Disney, que nós vamos conversar hoje!
No último sábado eu fui fazer uma visita pra minha afilhada e pra minha sobrinha. E a minha cumadi, que bem me conhece e não é boba nada, colocou, assim como quem não quer nada, o filme Moana pra gente assistir. Gratidão Gi!
A gente fala muito aqui na Re-forma que algumas pessoas usam a imagem pessoal como uma armadura pra se proteger. E às vezes é difícil expressar todo o conteúdo de uma ideia apenas em palavras.
Eu já estava há algum tempo quebrando a cabeça pra conseguir explicar melhor pra vocês esse conceito. E aí eu descubro Moana, que consegue mostrar exatamente tudo que eu quero dizer quando falo da imagem pessoal como uma armadura.
Moana – um mar de aventuras
Pra vocês entenderem eu vou precisar contar um pouco do filme. E eu vou contar do meu jeito, tá?! Rsrsrs
Te Fiti é uma Deusa criadora da vida, logo o seu coração (uma pedra pounamu) tem essa mesma habilidade. Maui, um semi deus, rouba o coração de Te Fiti para dar aos humanos, com intenção de ser amado. É um cara bem presunçoso sabem!
Saindo da ilha onde Te Fiti morava Maui se depara com um monstro gigante de lava. No embate Maui cai no mar e perde o coração de Te Fiti e o seu anzol (ferramenta que dá a ele o seu poder… tipo o martelo do Thor).
Quando Maui rouba o coração de Te Fiti uma espécie de maldição é criada e a vida de todo o universo vai secando, pouco a pouco, e tudo começa a virar terreno árido e infértil.
Mil anos depois Moana, ainda bebê, é escolhida pelo oceano para restaurar a situação devolvendo o coração de Te Fiti. Ela demora alguns anos até começar a sua jornada, já na sua adolescência.
Ao longo do filme uma coisa já tinha me chamado a atenção: questiona-se porque o oceano escolhe uma menina (mulher, ainda adolescente, supostamente frágil) para cumprir essa missão. Porque não um guerreiro (homem, forte, blábláblá)? No final eu entendi. Uma dica:
Mas vamos pular pro final que é lá que a coisa fica interessante.
A revelação
O tal monstro de lava barrava a entrada para a ilha de Te Fiti, onde o coração deveria ser recolocado. No final, depois de algumas batalhas perdidas, Moana consegue transpor o monstro e chegar à tal ilha para encontrá-la… vazia: Te Fiti não estava lá! Mas… uma grande reviravolta acontece e eu fiquei como?
Na verdade o monstro de lava era Te Fiti, que sem seu coração se transformou em um ser raivoso e explosivo. Reconhecem a anedota?
Quando Moana finalmente devolve o coração de Te Fiti toda aquela couraça rochosa que a escondia se desfaz e revela uma bela mulher recoberta de vida, verde e florida!
E quero chamar a atenção para a música que Moana canta nesse momento:
“Te encontrei, atendi teu chamado.
Teu nome eu sei,
Pois o teu coração foi roubado.
Mas isso é passado!
Sua missão encontrar,
Enfim seu lugar!”
Veja com seus próprios olhos:
Eu não vou nem me deter ao fato de ter sido um cara (bem do presunçoso, por sinal) que roubou o coração de Te Fiti. Ou de ter sido uma menina que o devolveu.
Porque o ponto aqui é que ao longo da vida são várias as situações e os contextos que podem nos deixar de coração partido (a perda do emprego, a morte de uma pessoa querida, o fim de um relacionamento, brigas com amigos e familiares, etc.).
Ação e Reação
Newton já dizia que toda ação gera uma reação oposta e de igual intensidade. E, enquanto psicóloga, sei que a dor emocional gera uma reação de autoproteção. E nós, mais que prontamente, vestimos uma armadura bem grossa e forte (olha duplo sentido aí!) para proteger esse coração ferido.
O problema é que as vezes essa armadura é tão eficaz que esconde completamente quem nós somos. E usar essa armadura por muito tempo pode acabar fazendo a gente esquecer quem realmente somos!
E como já vimos aqui, o nosso cérebro é altamente visual. Portanto a nossa imagem é protagonista na construção da nossa subjetividade. Como, então, se dar conta da existência de algo (ou alguém) que não é visto?
Reencontrar-se
Por isso defendemos tão ferrenhamente um processo de reencontro! Não basta vestir-se. É preciso reencontrar-se consigo mesma e despir a armadura primeiro.
E esse momento é delicado. Ficamos momentaneamente “nuas” para reconstruir a “roupa” que vestiremos. E isso é fundamental para que essa nova roupa, agora mais autêntica, funcione realmente como uma ferramenta. Que ela reflita quem somos por dentro e nos leve onde queremos chegar.
Se esse processo não acontece é muito fácil a gente acabar trocando uma armadura por uma fantasia. O que acaba dando na mesma.
É claro que tudo isso não impede um novo coração partido. Na verdade não há garantias pra isso. Acredite, nós bem que gostaríamos disso também!
Mas o amor também não se aconchega em quem vive escondido! Então, bora revelar a melhor versão de si mesma?