A nossa imagem profissional é, de longe, a que mais gera dúvidas, angústias e receio de parecermos inadequadas ou inapropriadas! Para Psicólogos isso acaba sendo um problemão porque, às questões universais, se somam os tabus e preconceitos que essa categoria profissional têm em relação a sua imagem profissional!
Na minha opinião, um dos maiores desafios da Psicologia atualmente é desmistificar a imagem do terapeuta frio, distante, rígido e “suposto saber” blasé. Para reforçar o lugar da Psicologia no desenvolvimento humano e na promoção de bem estar, para além da doença e da loucura e promover uma imagem do Psicólogo que seja mais humana, mais próxima, acolhedora e acessível ao público final.
Psicólogos devem se vestir formalmente?
Uma pesquisa de 1992 afirma em suas conclusões que “há mais probabilidades de clientes retornarem a um terapeuta que se veste formalmente do que a um terapeuta vestido casualmente”.
Mas será que é assim mesmo?
Uma revisão literária aponta que a imagem do terapeuta não se correlaciona com o nível de abertura do cliente, mas sim com a percepção de características como expertise, confiabilidade e capacidade de ajudar.
Entretanto não há consenso entre as pesquisas e, enquanto algumas apontam que uma imagem mais formal é mais desejável, outras apontam o oposto: as vantagens de uma imagem menos formal.
O objetivo, portanto, NÃO é afirmar que psicólogos devam se vestir mais formalmente, mas sim fazer com que se atentem mais para as potenciais contribuições da influência da sua imagem nas atitudes iniciais de seus clientes.
A impressão formada sobre o terapeuta na entrevista inicial tem minimos efeitos no processo terapeutico uma vez que ele é iniciado. Porém, a entrevista inicial determina se o cliente retornará ou não para iniciar o processo.
Não se esqueça: SUA IMAGEM É UMA PODEROSA FERRAMENTA DE CONSTRUÇÃO DE VÍNCULOS!
O importante é se vincular com seu cliente
Além disso, precisamos desmitificar a palavra formal: ela não necessariamente significa um visual executivo, sério, distante. Há muitas maneiras de transmitir formalidade e seriedade e se vincular com seu público, sem precisar se fantasiar de algo que você não é!
E, psicólogos deveriam estar cansados de saber disso, nos vinculamos a partir da percepção de semelhança ou de características que almejamos possuir!
Ou seja, quanto mais próximo de quem somos e de quem queremos nos tornar maiores as chances de se estabelecer um vínculo significativo, duradouro e produtor de bem estar!
Eu atendo muitos psicólogos e o feedback que eu mais recebo, de clientes e de colegas, é que assumir uma identidade profissional mais autêntica trouxe muitos resultados positivos! E que o feedback dos clientes é que justamente essa autenticidade foi um importante fator de decisão na hora de escolher o seu terapeuta.
Imagem profissional e retorno financeiro
Uma outra pesquisa, mais recente, de 2016, faz uma correlação entre gênero, atratividade e retorno financeiro. Trata-se de uma pesquisa bastante robusta que analisa dados longitudinais coletados ao longo de 14 anos!
E os seus resultados indicam que há, de fato, uma correlação entre percepção de atratividade e ganhos financeiros. Mas o interessante mesmo é que esse resultado financeiro pode ser manipulado através de comportamentos que aumentem a percepção de cuidado com a própria aparência!
Essas informações mostram pra gente como, do ponto de vista da nossa carreira, uma boa gestão da sua imagem pessoal pode melhorar e muito os seus resultados profissionais (a pesquisa aponta uma diferença média de 20%).
Cuidar da própria aparência é mais importante, e um melhor preditor de acesso a oportunidades, do que o seu nível atratividade!
Como Psicólogos devem se vestir?
E é aqui que você me pergunta: tá bom Débora! Mas se você tá aí dizendo que o Psicólogo não precisa ter como regra uma imagem sóbria e formal, COMO eu devo me vestir então?
E a resposta é: DEPENDE!
Depende de quem você é, de quais são as suas características de personalidade, com qual público você trabalha, etc.
Se a gente olhar bem, normalmente nossas escolhas profissionais não costumam estar muito distantes de quem somos. Por exemplo, os melhores psicólogos de adolescentes que eu conheço são pessoas naturalmente despojadas, irreverentes e com um bom senso de humor. E eles se vinculam bem com seu público, justamente, em função das suas características!
Adequação: um bicho escorregadio
Adequação é algo escorregadio, justamente porque ela depende: se você for a um churrasco em um sítio de terno estará inadequada, se for a uma reunião de trabalho usando roupas de banho também estará inadequada. É fundamental ler o CONTEXTO!
Por isso que não existe essa tal IMAGEM DO PSICÓLGO! O contexto aqui é:
Quem é você? Qual é o seu nicho de atuação? Qual é o perfil dos clientes que você gosta de atender?
De fato, a nossa imagem pode nos proporcionar mais ou menos oportunidades.
Porém sem saber a quais lugares você quer pertencer e quais oportunidades você deseja, fica difícil! Imagem pessoal não tem receita de bolo que serve pra todo mundo!
Sem considerar essas informações pode ser que seguir regras do senso comum como: usar roupas formais e passar maquiagem saiam pela culatra!
Seja autêntico!
Quanto mais autêntica for a sua imagem e quanto mais alinhada a sua carreira estiver com seus valores, com sua história e com os seus objetivos, mais forte será o vínculo com seus clientes. E, em psicologia, o sucesso está diretamente relacionado com a qualidade desses vínculos!
Referências usadas nesse texto:
DACY, Jennifer M.; BRODSKY, Stanley L. Effects of Therapist Attire and Gender (1992). Psychotherapy: Teory, Research, Practice, Training, 29 (3), p.486-490
WONG, Jaclyn, S.; PENNER, Andrew M. Gender ans the returns to attractiveness. (2016). Research in Social Stratification and Mobility, n.44, p.113-123.